quarta-feira, 8 de setembro de 2010

"Por um tempo eu esperei. Pensei que voltaria a ter o controle sobre tudo. Eu gosto de ter o controle, gosto de tudo programado. Abro o portão de casa com um clique, ligo a Televisão, aumento o som, mudo de estação, tudo pelo controle remoto. Sou moderno, mas eu queria ser antiquado, queria ter tido uma vida clichê, ter casado com um galã de novela, ter quem todos os dias me dissesse "eu te amo" e o direito constitucional de ter o meu final feliz, mesmo antes de ser mesmo o final. Mas a minha vida nunca foi assim. As coisas nunca começaram no momento em que eu dei o play, o mundo não me deixou respirar quando dei pause, nem pude te ver de novo em todas as centenas de vezes em que tentei retroceder. Eu não me comando, eu não te controlo, mas eu te amo.

Minha vida é como um filme rodando num aparelho DVD, sem manual, em que não funciona nenhum controle remoto. Por mais que eu avance eu sempre sinto que te deixei para trás, eu sempre sinto - ou peço para - você aparecer na próxima cena, em algum lugar, nessa nossa história. Parece que ficaram tantas funções não testadas naquele controle remoto que a gente disputava nas tardes de domingo. Foi tanta coisa dita sem o volume certo para se ouvir, deixamos tantos momentos em branco e preto, e nunca programamos o relógio para despertar nossas emoções positivas, nunca nos resolvemos, nos tornamos tarefas pendentes, anotamos nosso nome em um dos post-it pregados na tela do computador.

Eu queria usar o zoom e contemplar cada detalhe dos momentos em que eu dizia "você é o meu amor", mas agora o que eu faço é tentar fazer funcionar este botão e trocar essa legenda, mudar essa dublagem que agora me faz dizer "você foi o meu amor", em inglês, "você era o meu amor", em espanhol, e "você é o meu amor mal resolvido", na versão do áudio com comentários do diretor. Não é o controle remoto que não funciona, é a vida que não mente e a gente que se engana.

Estou vendo a fita do meu casamento, sentado na poltrona que ele não sabe que foi você quem me deu. Revejo o meu casamento, não o nosso, eu não casei com você. Estou revendo, parando, ampliando, tentando ver a cena de algum ângulo em que seja você quem coloca a aliança no meu dedo. Eu ainda uso esse anel, que com você eu chamaria de aliança. Seria tudo mais simples se tudo tivesse sido com você. Seriam dias sem tanta pilha em vão, não teria parado tanto a minha vida na tentativa de resolver esse nosso amor. Eu faço com ele os programas que eu queria fazer com você, eu tento não perder o controle com ele, por ele não ser você, mas eu ainda tenho em meu coração um GPS ligado a você, é por isso que dói tanto a distância.

É tão claro nosso amor, sem regular o brilho da tela, é tão claro que eu te amo, é tão claro que você me ama, e ainda assim nunca conseguimos modular nosso relacionamento com a clareza do nosso sentimento. Me sinto andando e te deixando para trás, não me vejo indo se estou sempre vindo para você voltar. Fica tudo igual quando eu me desligo, não tem nada programado nesses dias de faltar você. É tanto vai e vem, tanto vai, é tanto volta, é tanta volta e a gente sempre está no mesmo lugar, sempre longe de onde deveria ser nós dois. Não fizemos o dever de casa, não resolvemos o que era para hoje, e tem tanta lição acumulada que o nosso amor ficou assim, mal resolvido e ainda tão sentido.

Agora estou aqui, na casa que com você eu chamaria de lar, esperando você chegar, para tentar resolver o nosso amor, para eu nunca mais ter que te esperar. Ou te esperar pela certeza e não mais pela dúvida. Acho que agora pode dar certo, vamos tomar coragem e fazer tudo funcionar, com ou sem controle remoto. Me bateu aquele medo de você não vir nos resolver, mas sem apertar qualquer botão, sem usar nenhum controle, começou a tocar aquela nossa música. Vou te aguardar ouvindo essa canção, pedindo pelo tempo remoto em que eu tinha o controle de todo o nosso coração."